No dia das missões, Agência Ecclesia entrevista o padre Manuel Dias

O Padre Manuel Henriques Dias, natural de Ferreira do Zêzere foi entrevistado pela Agência Ecclesia, no fim de semana em que se comemora o dia das missões.


Na Colômbia desde 1984, o padre Manuel Dias conta algumas aventudas vividas neste complicado ligado á guerrilha e ao narcotráfico.

"Há 26 anos atrás, num mundo que não conhecia bem, “nem sequer a língua”, que aprendeu durante um mês, o sacerdote português teve como primeira missão a zona conturbada de Caqueta, mais concretamente na paróquia de Cartagena del Chaira, conhecida por ser uma região com muita guerrilha e entregue ao tráfico de drogas.
Evangelização e mediação de conflitos fizeram parte do seu dia a dia durante sete anos - “Estive em sítios onde não se via um padre há muito tempo”, realça o missionário da Consolata, que visitou povos e aldeias perdidas no meio da selva.
“Foi como que uma primeira evangelização, contactar as pessoas, com a comunidade, baptizar as crianças, deixar um líder para preparar a primeira comunhão”, explica ainda.

(c) agência ecclesia

Apesar de grande parte das pessoas já ser católica, a percentagem de praticantes era muito reduzida. As crenças supersticiosas eram muitas vezes mais fortes, provocando um afastamento da igreja.

“Foi preciso reavivar essa fé e a evangelização que fazíamos era nesse sentido”, refere o padre missionário, que teve como um autêntico desafio a (re)construção de comunidades cristãs, das suas paróquias, ao mesmo tempo que se procurava dar mais condições de vida às populações.
“Quando cheguei, tivemos que fazer um poço para ter água, reconstruir a casa paroquial e levantar uma Igreja, de raiz”, recorda.

Depois, havia que contar com o fenómeno da violência, levada a cabo pelas guerrilhas espalhadas pela região (especialmente as FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), associada ao problema do tráfico de droga, situações que afectavam a vida daquelas populações.
“Havia muitos sequestros e mortes e via nas pessoas a tentação de levar uma vida fácil, produzindo e vendendo cocaína” lamenta o sacerdote.


“Cheguei a encontrar-me com todos esses movimentos de guerrilha, falei com eles, são situações em que temos antes de mais de ter cuidado com o que dizemos” ressalva o missionário, que usou como “armas” o carinho e a amizade, para procurar resolver conflitos.
“Essas pessoas aceitam bem o missionário estrangeiro, respeitam-nos porque sabem que estamos no país para ajudar os pobres” refere o padre Manuel Dias, acrescentando que “a pouco e pouco, elas vão ouvindo as orientações que damos, onde procuramos fazer ver aos guerrilheiros e traficantes o mal que estão a fazer”.


Depois de vários anos em que exerceu funções administrativas nas Casas da Comunidade Missionária, em Medellin, Manizalles e Bogotá, actualmente, o padre Manuel Dias encontra-se a trabalhar em Bucamaranga, como director do Centro de Animação Missionária, na paróquia de La Consolata.

Com o regresso a Portugal cada vez mais no horizonte – “já tenho alguns anos” brinca o sacerdote – diz que da Colômbia vai levar no coração “uma gente que sempre o acompanhou e se mostrou muito aberta ao trabalho e à oração”.

http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?&id=82150