Conversa com o Padre Filipe Diniz

Em Ferreira do Zêzere desde 2007, o padre Filipe Diniz marcou a vida dos ferreirenses. Vai deixar o concelho no final do próximo mês de setembro onde vai exercer a convite de Dom Albino Cleto a  Direção do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil, será assistente adjunto da Junta Regional do C. N. E. e será membro da equipa do pré-seminário de coimbra. 



Região do Zêzere (RZ) - Está em Ferreira do Zêzere desde 2007, chegou ainda diácono, passados 3 anos que balanço faz do trabalho que realizou neste concelho?



Padre Filipe (PF) - É verdade, já passaram três anos por estas terras de Ferreira. O balanço que faço da minha presença por Ferreira do Zêzere é muito positivo. Sinto que servi estas comunidades em nome de Jesus Cristo e da Sua Igreja.




(RZ) Foi o mais jovem padre que Ferreira do Zêzere recebeu nos últimos anos como foi recebido durante este período?



(PF) Tenho muito a agradecer às pessoas das comunidades da Unidade Pastoral de Ferreira do Zêzere pelo seu acolhimento. Todavia, foi através do acolhimento das pessoas que eu me deixei acolher, visto que, o que define o concelho de Ferreira do Zêzere é o Bom Acolhimento.

 

(RZ) A sua grande aposta foram naturalmente a aproximação aos jovens. Foram indicações do Sr. Bispo?



(PF) O Sr. Bispo pediu-me em 2007 para servir as comunidades de Ferreira do Zêzere sem especificar estratégias ou métodos de trabalho. Aquilo que ele me pediu é que cooperasse com ele, como qualquer padre quando vai servir uma comunidade. Deste modo, olhando para esta realidade e conversando com o Pe Manuel, achámos por bem iniciar um trabalho na pastoral juvenil nas paróquias da Unidade Pastoral de Ferreira do Zêzere. Foi desta maneira que surgiram algumas atividades estruturadas para fazer crescer os jovens na dimensão espiritual: Campos de Férias, preparações para o Crisma, Vivência do Tríodo Pascal, Peregrinações a Fátima a pé, Festas da Catequese, participar nas atividades de cada Secção no Agrupamento 988 de Ferreira do Zêzere, entre outras. Todas estas atividades foram surgindo pela experiência que fui tendo com jovens de comunidades por onde passei.







(RZ) Pegando na frase de João Paulo II "não tenhais medo", qual é a atitude dos jovens ferreirenses perante Jesus Cristo? Têm medo, são envergonhados ou já arriscam e espalham e trabalham diariamente a fé cristã?



(PF) Os jovens têm imenso medo de se revelarem. Para se revelarem necessitam de um rosto que acredite neles e que os faça acreditar naquilo que eles estão a fazer. A fé não é uma coisa que se adquire de um momento para o outro, necessita de crescimento e de amadurecimento. Estou certo que eles foram amadurecendo a Fé em Deus, primeiro com a ajuda d’Ele e depois de uma pequena parte da minha.


 
(RZ) Qual foi a situação que encontrou e como estão hoje os nossos jovens?



(PF) Os Jovens necessitam de quem lhes mostre e de quem faça caminho com eles. Foi isso que eu tentei, como irmão mais velho, de fazer com eles, amadurecendo também a minha fé. É certo, que quando cheguei não havia um timbre de voz que falasse para eles e deles. Deus ajudou-me a ajustar o meu timbre de voz ao deles. Todavia, foi com essa graça que os jovens entenderam o que lhes queria dar. Neste momento podemos dizer que eles percebem um pouco, mas não tudo…Necessitam de caminhar muito mais. Digamos que, o meu colega Diácono Francisco vem com este propósito de querer caminhar e crescer com eles.


 
(RZ) Agradou-lhe trabalhar na nova realidade que foi a constituição da Unidade Pastoral concelhia?



(PF) Agradou-me imenso trabalhar nesta nova realidade de Unidade Pastoral, embora algumas pessoas não entendessem no seu início. Sei que, ainda estamos muito habituados ao “nosso padre” na paróquia, mas os desafios pastorais da nossa Diocese vão passar muito nesta perspetiva. Com esta realidade, os padres trabalham em campos diferentes de acordo com os diversos dons ou aptidões, conforme se viu na nossa Unidade Pastoral. Eu trabalhei com os jovens, catequeses e escuteiros, o Padre Manuel estava mais ligado aos Conselhos Económicos, processos de casamentos e batizados, o Padre Olívio colaborava connosco nas celebrações. Todavia, todos caminhávamos na mesma direção, assumindo diferentes responsabilidades.






(RZ) A rotatividade de párocos não significa um afastamento destes em relação aos seus paroquianos?



(PF) A rotatividade dos párocos pode afastar a relação com os paroquianos, mas penso que é uma pequena parte. Contudo, a rotatividade dos padres, no meu modo de pensar, permite que as pessoas se aproximem ainda mais do padre. Todavia, nós somos seres que nos construímos humanamente através da relação. Deste modo o escutar e relacionar-se com padres de diferentes personalidades, permite-nos um crescimento humano e espiritual na fé cristã.

 

(RZ) Perdeu-se a relação quase familiar com o padre?



(PF) Na minha maneira de ver a realidade, penso que se ganhou ainda mais a relação familiar com o padre. Se nós medirmos a relação com o padre só no átrio da igreja no final da missa, penso que isso não define a relação com o padre. O que define a relação familiar com o padre é convidá-lo para passar por casa e ser família nas famílias; é na rua conversando com as pessoas; é no visitar os doentes nas paróquias, etc... Penso que é aqui, que nós cristãos precisamos de crescer para que a relação com o padre se torne ainda mais próxima.

 

(RZ) Sendo a missão a mesma desde há 2000 anos, hoje perante as alterações sociais, a era digital e a globalização... ser padre é um desafio difícil?



(PF) Ser padre é ser-se no tempo e no espaço da era social; é estar atento aos desafios que o mundo nos lança e tornar Deus ainda mais próximo através dos diversos recursos que existem. Penso que difícil não é, mas exige uma atenção redobrada.

 

(RZ) O apoio da sua família tem sido importante?



(PF) A família é o núcleo central da vocação do padre. Com Graça a Deus, tenho uma família que me apoia imenso e que me admira por ser quem sou. Com esta certeza, sinto-me muito feliz por ter uma família que me ajuda a ser padre.

 

(RZ) Quando foi ordenado diácono em 2007, disse em entrevista ao jornal "independente de Cantanhede: “O meu objetivo não é ter igrejas cheias como estádios de futebol. É tão só fazer com que as pessoas compreendam o Mistério de Jesus Cristo e se voltem para Ele”. Tem sido difícil este caminho?



(PF) Não é difícil este caminho. Deus propõem caminhos para que as pessoas os possam realizar, assim como eu também caminho. Aquilo que eu sou chamado a ser, é ser orientador, com a ajuda de Deus, de quem deseja caminhar. Do mesmo modo, as pessoas são também para mim ponto de orientação, porque Jesus Cristo é o Caminho para a Humanidade.


(RZ) Está a terminar mais uma fase da sua vida, deixa Ferreira do Zêzere com saudade?



(PF) É uma das características do sangue português é a Saudade. É claro, que vou ficar com algumas saudades, visto que construí um clima de amizade e de sinceridade com as pessoas e isso deixa-me muito feliz.




(RZ) Fez por aqui muitos amigos?



(PF) Uma das minhas características que me define como pessoa é o à vontade com que construo a Amizade. Sou um ser acessível na relação com as pessoas e por isso é que fiz amigos, uns com mais afinidade e outros com menos.

 

(RZ) Leva daqui alguma mágoa?



(PF) A mágoa que levo é de não ter conseguido conhecer todas as pessoas. Mas, essa será sempre a mágoa de ser padre, pois nunca se consegue conhecer todas as pessoas.


 

(RZ) O que gostaria de ter feito que não fez, ou para a qual não teve tempo?



(PF) Uma das realidades que eu sinto que eu devia ter feito e não consegui pela falta de tempo, é a Pastoral Familiar. Formar grupos de casais, onde os casais possam crescer em Igreja partilhando tudo aquilo que são, sem medo e sem receios. No meu modo de pensar, as famílias precisam de se construir unindo-se ainda mais, porque a sociedade absorve-nos demasiado com o trabalho. As famílias necessitam de um acompanhamento mais próximo e abrir as portas das suas casas.


 
(RZ) O Sr. Bispo acaba de o nomear para importantes funções em Coimbra. Como recebeu a notícia?



(PF) Recebi esta notícia do mesmo modo como recebi a notícia há três anos quando vim para cá. De uma forma muito livre e acolhedora recebi esta notícia do meu Bispo oficialmente a meados de julho. Depois de algumas conversas com o Sr. Dom Albino, eu e ele chegámos a esta conclusão. Digamos que ele não me obrigou a ir para o Secretariado da Juventude de Coimbra sem eu saber. O Bispo procura partilhar sempre o que quer com o padre que deseja mudar. Assim, com a ajuda de Deus, o Sr. Bispo lançou-me este desafio.



(RZ) Já interiorizou que vai ser o novo Diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil?



(PF) Sim.


(RZ) Qual vai ser o seu trabalho?



(PF) Primeiro de tudo quando começar a trabalhar necessito de conhecer muito bem a realidade da Pastoral Juvenil da Diocese;



Segundo, eu vou assumir o Secretariado da Juventude onde já tenho uma equipa jovem que já está a trabalhar, onde para isso necessito de os conhecer muito bem, pois eles também estão para servir a Igreja.



Terceiro, como já tenho um calendário das atividades, vou estar e dar o meu máximo nas diversas propostas para este ano pastoral 2010/2011 que se avizinha.


 
(RZ) Já tem algumas propostas? Novidades?



(PF) Não tenho nenhumas propostas. Seria injusto da minha parte propor atividades tendo eu pouco conhecimento da realidade. Tenho que “aterrar” para caminhar.



Novidades existem algumas, mas destaco uma que vai ser muito importante e confortante para a nossa Diocese e para o Mundo. A presença dos jovens da Diocese de Coimbra nas Jornadas Mundiais da Juventude em Madrid de 11 de agosto a 21 de agosto de 2011. É uma experiência emocionante estar com o Papa e com jovens de todo o Mundo. É com muita alegria que o Secretariado prepara este acontecimento, visto que, a nossa Diocese sempre esteve presente nas Jornadas Mundiais em anos anteriores.

 



(RZ) Que trabalho vai realizar com os escuteiros?



(PF) Eu no escutismo ficarei como Assistente Adjunto Regional do CNE de Coimbra colaborando com o Padre João Paulo Vaz, Assistente Regional do CNE de Coimbra. Temos à nossa responsabilidade a assistência espiritual no escutismo em Coimbra, seja nas atividades escutistas a nível Regional, seja na Formação de Dirigentes para o CNE, entre outras.


 
(RZ) Estas alterações e nomeações pastorais diocesanas são possivelmente as últimas de D. Albino Cleto enquanto Bispo de Coimbra. Que balanço faz do seu trabalho?



(PF) O balanço que faço do trabalho do Dom Albino é bom. A nossa Diocese tem um Bispo que escuta e que vive a nossa Diocese tal como ela é. É certo que alguns projetos não se conseguiram e outros conseguiram-se, mas, nem tudo sempre se consegue. Todavia, dou Graças a Deus pelo Ministério Episcopal do Dom Albino Cleto pela amizade que tenho por ele.

 

(RZ) Como considera a aposta que D. Albino deposita em si?



(PF) É difícil explicar, pois só ele o saberá. Se ele me chamou para esta nova missão, é sinal que ele tinha provas. Estas provas advêm do bom conhecimento que ele tem de mim e de outros que o ajudaram a ver que ele pode confiar em mim nesta nova missão.

 

(RZ) Voltando a Ferreira do Zêzere, com a sua partida chega um novo diácono, com a falta de vocações, receber mais um jovem é uma bênção?



(PF) Eu neste momento vejo que é uma grande bênção de Deus receber um jovem nestas terras. A nossa Diocese já não tem padres para cada paróquia com antigamente. Hoje, os padres acumulam paróquias, onde o trabalho se torna mais exigente. Para a Unidade Pastoral de Ferreira do Zêzere de facto é uma bênção de Deus.


(RZ) Conhece o diácono Francisco Claro?



(PF) Conheço bem. Eu estive durante três anos no Seminário Maior de Coimbra com ele. Ele é mais novo do que eu, três anos. O Diácono Francisco é um rapaz que vem com vontade de servir e de conhecer muito bem estas terras.

 

(RZ) Já este algumas vezes em Dornes com o Padre Aurélio e o Padre Artur em algumas edições da Via-sacra "uma vela a Jesus".



(PF) Esteve presente algumas vezes nas edições da Via-sacra. Não quero induzir em erro, mas penso que esteve três vezes, acompanhando o Padre Aurélio.

 
(RZ) Sabe se vai continuar o seu trabalho?



(PF) O diácono Francisco virá para a Unidade Pastoral de Ferreira do Zêzere para dar continuidade ao trabalho que estava a realizar:astoral Juvenil, catequeses, Escutismo, entre outras.


(RZ) Até Quando vai estar em Ferreira do Zêzere e quando chegará o Diácono Francisco?



(PF) Eu vou estar por Ferreira do Zêzere até ao final de setembro. O Diácono Francisco virá no início de setembro para Ferreira do Zêzere.


(RZ) A terminar gostaria de deixar alguma mensagem aos seus paroquianos?



(PF) Sim.



(RZ) Com a alegria de servir, ultrapassam-se as barreiras que impedem o Caminho da Vida.



(PF) Foi sempre esta a mensagem que tentei passar a todos os paroquianos, porque a desilusão não nos leve a lado nenhum. É preciso erguer os nossos olhos para Deus para realizar um CAMINHO sem medo de viver. Jesus Cristo é o Alfa e o Ómega da nossa VIDA. Deixemo-nos tocar por Ele…